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segunda-feira, 24 de julho de 2017

Os Caaporas

Meninos caaporas. Imagem modificada de original em domínio público.

Na grande floresta de Grínkor, vive uma tribo de crianças que chamam a si mesmo de "caaporas" (ka'á + pora = habitante da floresta). Nas cidades macebóis vizinhas à floresta, é mais comum chamá-los de "o povo da mata".


Inicialmente, eles moravam em casas construídas entre os galhos de árvores frondosas, no entorno de uma taba chamada Tabypy (taba + ypy = primeira aldeia). Quando essas árvores morreram, Tabypy foi abandonada e tornou-se uma tapera. A maioria de seus habitantes migrou para o sul da floresta, onde fundaram Ybyraoketá (ybyrá + oka + etá = muitas casas de árvores), uma taba que segue a mesma arquitetura de casas nas árvores de Tabypy. Mas, alguns caaporas preferiram erguer aldeamentos noutras partes da floresta, não necessariamente entre os galhos de árvores. Assim surgiram, entre outras, as cidades de Emaém (E-ma'ẽ! = veja!; em referência à beleza da paisagem), Ipopiraçuí (I por pirá suí = cheia de peixes), Guarinindaba (guarinĩ + taba = aldeia dos guerreiros), Ybytyratá (ybytyra + tatá = montanha de fogo, vulcão), Tukatu (tura + -katu = boa vinda), Sugûypirangapé (Sugûy + piranga + apé = caminho do sangue vermelho; referência ao rio Artéria) e Jaguacuara (Îagûara + kûara = esconderijo da onça). Ybyraoketá foi escolhida como sua capital, em deferência ao estilo de sua antiga Tabypy.

Em Ybyraoketá, é possível ir de casa em casa usando pontes
e cordas, sem precisar descer ao chão. Imagem modificada de
Bamboo House Mawlynnong | © Editor Gol Monitor / Flickr

Eles usam roupas simples, trançadas com fios de cauuma (ka'á + u'uma = planta macia) e têm a pele acastanhada. Alguns gostam de se ornar cordas atadas aos braços e tornolezos, além de pinturas em padrões geométricos pelo corpo. Eles veneram Ka'a'anga Py'aoby (ka'á + 'anga + py'á + oby = espírito da floresta coração verde), aquele que as demais crianças chamam de Grínkor, o Espírito da Floresta.

 
O idioma dos caaporas é o Abanheenga (abá + nhe'enga = língua de gente), mas a maioria deles também sabe se expressar mais ou menos bem em Nortenho. E alguns de seus pajés e xamãs alegam ser capazes de falar diversas Soonheengas (so'ó + nhe'enga = língua de animal).

São amantes de histórias e lendas, e boa parte de sua cultura gira em torno da preservação e transmissão dessas histórias. Grande destaque em sua sociedade tem o sacerdote ou sacerdotisa que carrega o título de Mombeú Mboeçara (mombe'u mbo'e-sara = mestre do narrar), que se encarrega de garantir que as crianças caaporas nunca percam a imaginação, caso o espírito mau Moangu (moanga + 'u = comer ideias) tente comer seus sonhos.

Por apreciarem as histórias, sempre receberam muito bem os visitantes d'além-floresta, especialmente quando estes vêm em buscas e aventuras. Sua gentileza frequentemente era retribuída com algum presente, muitos dos quais não lhes serviam no dia-a-dia. Eles, assim, resolveram que dariam esse presente à próxima busca de crianças que os visitasse. Tal costume deu origem à Jetanonga (îetanonga = dar oferenda, presentear), a cerimônia de troca de presentes entre uma busca do passado e outra do futuro intermediada pelos caaporas.

Mas não pense que eles são um povo tímido, pois também têm suas desavenças com os macebóis e entre eles mesmo. O mais doloroso desses conflitos levou à uma divisão de seu povo: as aldeias Guarinindaba e Jaguacuara uniram-se e pelejaram contra as demais, pois seu chefe Akangatã (akanga + atã = cabeça dura) queria ser coroado líder dos caaporas. Akangatã perdeu essa guerra, mas aliou-se aos macebóis e declarou-se líder dos poretés (pora + eté = povo legítimo); já os caaporas passaram a considerá-los rebeldes tobajaras (tobaîara = inimigo).

Em O Rei Adulto, você conhecerá um pouco mais sobre os caaporas e seu papel na busca de Êisdur. Compre o seu exemplar!

Todas as etimologias apresentadas acima são do tupi antigo, tomado como idioma para representação do Abanheenga. Você pode aprender o tupi antigo a partir dos livros do Prof. Eduardo Navarro ou do já esgotado Curso de Tupi Antigo, do Padre Lemos Barbosa.

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